Caatinga: o Eldorado do Mercado de Carbono no Brasil
- Carlos Sergio Gurgel

- 4 de set.
- 5 min de leitura

Uma das grandes apostas para o desenvolvimento sustentável na região do semiárido brasileiro é a operacionalização do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), instituído pela Lei nº 15.042, de 11 de dezembro de 2024. Isso porque este sistema visa inserir no mercado financeiro um ativo ambiental esquecido ou pouco conhecido no cenário nacional, como iremos apontar nos parágrafos seguintes.
Trata-se de uma verdadeira revolução “branca”, tendo em vista a principal característica desse tipo de vegetação. Só para se ter uma ideia, segundo a Embrapa, caatinga é um termo de origem Tupi-Guarani e significa “mata branca”, o que caracteriza bem o aspecto da vegetação na estação seca, quando as folhas caem e apenas os troncos brancos e brilhosos das árvores e arbustos permanecem na paisagem seca[1].
Como aponta o órgão acima, a caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, com biodiversidade adaptada às altas temperaturas e à falta de água. Localizado na região Nordeste do Brasil, esse bioma ocupa uma área de 826.411km2 e apresenta uma flora e fauna rica em endemismo.
Situado predominantemente na região Nordeste do Brasil, abrange uma extensão de 826.411 km², o que corresponde a 9,92%% (dez por cento)[2] do território nacional e abriga flora e fauna marcadas por elevado grau de endemismo. Em termos de área é o quarto maior bioma do Brasil, ficando atrás apenas da Floresta Amazônica, Cerrado e Mata Atlântica.
Estudos recentes têm revelado o potencial do bioma caatinga para o sequestro de carbono, o que representa um fato de extrema relevância para as potencialidades que se levantam no local. Sabe-se que o Nordeste brasileiro tem sido estudado há séculos e que muitas teorias já foram apontadas como soluções viáveis para se romper o seu quadro de estagnação econômica.
É certo que a realidade do Nordeste semiárido é diversa, não podendo ser reduzida a um cenário exclusivo de estagnação econômica. A região já experimenta diferentes quadros de desenvolvimento, perceptíveis em setores como o turismo, em especial no litoral setentrional, mesmo em áreas de clima semiárido, além da indústria, agroindústria, pecuária, mineração e produção de energia elétrica, entre outras atividades.
Todavia, esses avanços configuram-se ainda como “ilhas” quando se observa o conjunto socioeconômico regional em sua totalidade. Nesse contexto, uma das estratégias para ampliar oportunidades e estruturar um verdadeiro “ecossistema econômico” capaz de promover desenvolvimento sustentável é diversificar as fontes de geração de emprego e renda. Nesse sentido, o mercado de carbono surge como alternativa promissora e imediata, especialmente diante da consolidação jurídica trazida pela Lei nº 15.042, de 11 de dezembro de 2024, que transformou a ideia em realidade normativa pronta para ser explorada.
Nesse potencial técnico, destacam-se mais de dez anos de pesquisas conduzidas pelo Observatório Nacional da Caatinga, as quais demonstraram que esse bioma é o mais eficiente do Brasil no sequestro de carbono. Os estudos apontam que, a cada 100 toneladas de CO² absorvidas pela vegetação do semiárido, entre 45% e 60% permanecem retidas, sem retornar à atmosfera. O resultado surpreendeu até mesmo os pesquisadores, ao revelar que a Caatinga, diferentemente do que se imaginava, apresenta um balanço fotossintético altamente positivo. Assim, consolida-se como um importante sumidouro de carbono e se coloca como uma das soluções mais promissoras diante dos desafios das mudanças climáticas.[3].
O conceito de “sumidouro” aplica-se a ecossistemas capazes de capturar mais CO² do que liberam por meio da respiração das plantas e do solo. Para fins de comparação, estudos apontam que, na Amazônia, o saldo entre absorção e liberação de CO² varia de 2% a 11%, enquanto no Cerrado essa eficiência alcança 23%. Essas conclusões foram obtidas a partir de dados coletados por torres de 15 metros de altura, equipadas com sensores de gases, instaladas em 30 diferentes biomas distribuídos pelo mundo[4].
Segundo o estudo, nas áreas mais úmidas da caatinga, a dinâmica ecológica permite a retenção de até 5 toneladas de CO² por hectare a cada ano. Mesmo nas regiões mais áridas, o bioma mantém um desempenho expressivo, conseguindo armazenar até 2,5 toneladas de dióxido de carbono por hectare anualmente. Esses índices de sequestro evitam que o gás seja liberado para a atmosfera, contribuindo de forma direta para mitigar o agravamento dos impactos das mudanças climáticas.[5]
Como é de amplo conhecimento, as mudanças climáticas decorrem principalmente da emissão de gases de efeito estufa, como CO₂, CH₄ e N₂O, gerados por atividades humanas. Inventários nacionais e internacionais vêm quantificando essas emissões e remoções, sendo que estudos recentes demonstraram o papel central da caatinga na captura de carbono. Como destaca Eduardo Geraque, apesar de ocupar apenas cerca de 10% do território brasileiro, esse bioma chegou a responder por quase 50% das remoções nacionais entre 2015 e 2022, superando Amazônia e Cerrado em determinados períodos. Essa eficiência foi verificada a partir de dados do SEEG e do Climate TRACE, aliados a informações de satélite sobre precipitação e fluorescência da clorofila (SIF), indicador da atividade fotossintética[6].
Esses resultados revelaram que a caatinga apresenta alta capacidade de resposta à variação climática, principalmente em anos de maior precipitação, quando sua vegetação seca rebrota rapidamente e intensifica o sequestro de CO₂, chegando a representar cerca de 40% das remoções no país. Embora a Amazônia permaneça como um reservatório vital de carbono, a caatinga destacou-se como um sumidouro expressivo, com um funcionamento peculiar: mesmo em curtos períodos de melhoria climática, sua vegetação acelera o crescimento e absorve grandes quantidades de carbono, tornando o bioma um aliado estratégico na mitigação das mudanças climáticas[7].
Temos, portanto, como diz o ditado popular, “a faca e o queijo na mão”; falta apenas a disposição para agir. Cabe aos agentes políticos e à iniciativa privada atuarem em conjunto, por meio de investimentos e articulações, para transformar projetos de sequestro de carbono em áreas semiáridas do país, regiões frequentemente apontadas como das mais pobres, em oportunidades de prosperidade e desenvolvimento.
Iniciativas desse tipo representam, além de uma alternativa viável no combate à desertificação, uma relevante fonte de crescimento econômico. A adoção de tecnologias verdes, ou “brancas”, pode oferecer o impulso necessário para superar a estagnação econômica, convertendo a caatinga em um verdadeiro polo de negócios sustentáveis.
Referências consultadas:
[1] EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Bioma Caatinga. Brasília: Embrapa, [2021]. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/tematicas/bioma-caatinga. Acesso em: 4 set. 2025.
[2] LETRAS AMBIENTAIS. Biomas do Brasil: conheça as 9 principais ameaças. Disponível em: <https://www.letrasambientais.org.br/posts/biomas-do-brasil%3A-conheca-as-9-principais-ameacas>. Acesso em: 4 set. 2025.
[3] MONGABAY BRASIL. Caatinga é o bioma mais eficiente do Brasil em captura de carbono. Disponível em: <https://brasil.mongabay.com/2024/04/caatinga-e-o-bioma-mais-eficiente-do-brasil-em-captura-de-carbono/>. Acesso em: 4 set. 2025.
[4] MONGABAY BRASIL. Caatinga é o bioma mais eficiente do Brasil em captura de carbono. Disponível em: <https://brasil.mongabay.com/2024/04/caatinga-e-o-bioma-mais-eficiente-do-brasil-em-captura-de-carbono/>. Acesso em: 4 set. 2025.
[5] MONGABAY BRASIL. Caatinga é o bioma mais eficiente do Brasil em captura de carbono. Disponível em: <https://brasil.mongabay.com/2024/04/caatinga-e-o-bioma-mais-eficiente-do-brasil-em-captura-de-carbono/>. Acesso em: 4 set. 2025.
[6] UNESP – Universidade Estadual Paulista. Estudo revela importância da Caatinga para o sequestro do carbono no contexto brasileiro. Jornal da Unesp, 28 jul. 2025. Disponível em: <https://jornal.unesp.br/2025/07/28/estudo-revela-importancia-da-caatinga-para-o-sequestro-do-carbono-no-contexto-brasileiro/>. Acesso em: 4 set. 2025.
[7] UNESP – Universidade Estadual Paulista. Estudo revela importância da Caatinga para o sequestro do carbono no contexto brasileiro. Jornal da Unesp, 28 jul. 2025. Disponível em: <https://jornal.unesp.br/2025/07/28/estudo-revela-importancia-da-caatinga-para-o-sequestro-do-carbono-no-contexto-brasileiro/>. Acesso em: 4 set. 2025.
OBS: Imagem extraída de: <https://blog.123milhas.com/dia-nacional-da-caatinga-veja-cinco-lugares-para-conhecer-o-bioma-100-brasileiro/>. Acesso em 04 de setembro de 2025.




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